Antropólogo em Marte, é uma obra do neurologista inglês Oliver Sacks feita em forma de crônica. No trabalho ele conta as incríveis histórias de seus pacientes de forma cativante, demonstrando uma enorme habilidade na escrita. Com doenças neurológicas devastadoras, os pacientes surpreendem o médico, bem como seus leitores, por conta da capacidade de adaptação e criatividade aplicada para conviverem com suas limitações.
A obra transita entre as pesquisas e evoluções da área médica e a relação pessoal estabelecida entre o médico e seus pacientes. O livro conta com histórias realmente fenomenais, como o caso do “pintor daltônico”. Um homem de 65 anos que sofre um acidente de automóvel e, a partir disso, torna-se daltônico.
O pintor percebe que alguma coisa está errada quando visita seu ateliê e encontra um ambiente sem cores. Aquele lugar que antes era amplamente colorido e animado, agora estava cinza, frio. O paciente relata que tudo para ele passou a parecer feio, sujo. Nem mesmo sua própria aparência no espelho, para ele, era encarável. Os alimentos que ele ingeria lhe pareciam sem vida, precisando até fechar os olhos ao comer.
Era como se ele estivesse vivendo em um mundo preto e branco.Com o passar do tempo, o homem perdeu também a memória das cores. Mas, apesar daquele mundo colorido estar acabando, o autor descreve o surgimento de outra realidade paralela perante o paciente. A sensação de não saber mais das cores, aguçou a imaginação do artista, que passou a pintar imaginando como seria um nascer do sol, por exemplo. Era uma realidade que estava sendo, de alguma forma, descoberta. Assim, o paciente buscava suas motivações para continuar pintando e essencialmente, vivendo.Na obra, o último conto é chamado de justamente “um antropólogo em marte”. Essa parte conta a história de uma autista que é especialista em ciência animal e professora de uma importante universidade dos Estados Unidos, a Colorado State University. Após muitos anos de estudo, a profissional consagrou-se como uma verdadeira autoridade mundial na sua área de atuação. O autor do livro aborda que a linguagem técnica e científica era muito mais acessível para a paciente do que as linguagens comuns utilizadas na sociedade. Foi dessa forma que a paciente adaptou-se ao mundo que vivia, estando mergulhada, e, de certa forma, refugiada nos seus estudos científicos e acadêmicos. A paciente conta ao médico escritor que se sentia como uma “antropóloga em marte”, ou seja, ela percebia que não compartilhava das mesmas sensações e objetivos comuns dentro do seu meio de convívio.Oliver Sacks, dentro do seu estilo, estuda e compartilha as experiências daqueles que muitas vezes despercebidos, fazem de tudo para simplesmente sentirem-se integrados com o meio que vivem e serem reconhecidos por aquilo que fazem, e não por suas limitações.