As Lendas são histórias contadas, e recontadas pelo povo. No Brasil elas são inúmeras e estão diretamente ligadas a miscigenação na origem do povo.
Alguns pesquisadores, historiadores, ou folcloristas, afirmam com convicção que as lendas são apenas frutos da imaginação popular, porém para a população as lendas são incógnitas. Comprovadamente não são verdades, nem mentiras, o que é fato é que são narrações resistentes que sobrevivem na memória das pessoas e repassadas de geração em geração com a mesma intensidade como foi contada pela primeira vez.
Enquanto a lenda faz parte do folclore, mito é o personagem ao qual a lenda se refere, em uma comparação mais objetiva, Lenda é o filme e Mito o Ator principal.
Que tal conhecermos um pouco mais sobre um dos maiores mitos brasileiros, o Curupira? Ela faz parte do nosso folclore e por isso merece toda uma atenção especial, veja a seguir.
Curupira, O Guardião da Floresta.
Caipora. Boi tatá. Mula sem cabeça. Iara. Cobra grande. Vitória Régia. Saci Pererê. Negrinho do pastoreio. Papa figo e tantas outras lendas amedrontaram e encantam a infância de muitos brasileiros.
E com o Curupira, não é diferente. Ele compõe o folclore brasileiro, como lenda criada e estimulada pela população brasileiras que habitam nas áreas próximas a florestas.
Conta a lenda que o Curupira é um menino travesso. Ele aparenta ter seis ou sete anos, anda nu, é ruivo e peludo, têm os dentes azuis ou verdes, orelhudo, unhas compridas e afiadas e têm os pés ao avesso, com os calcanhares para frente. Ele também tem o poder de realizar encantamentos e de se transformar em outras criaturas, tendo ainda muita velocidade, força e astúcia. Ele mora nos buracos das árvores que tem raízes gigantescas, muito comuns da floresta amazônica. E protege as florestas contra os inimigos das matas (caçadores, garimpeiros irregulares, desmatadores, etc.) que abusam da fauna e flora.
Esse “menino” aproveita-se dos pés ao avesso para enganar os caçadores, deixando-os perdidos nas florestas.
O termo Curupira tem origem no tupi-guarani, sendo “curu” uma derivação de curumim, menino, e “pira”, corpo. Ou seja: corpo de menino.
Na crença em comum, ele é o “Senhor das florestas”, o “Guardião da caça”, que castiga os homens que a destroem. Mas é flexível com aqueles que não o contrariam e que se mostram esforçadas e obedientes. Percebemos assim a bipolaridade do curupira, que ora é imprescindível e feroz não admitindo desrespeito ou desobediência por parte dos que adentram a floresta e ora é afetuoso e compassivo com os que o obedecem.
No contexto geral trata-se do responsável pelos estrondos, e movimentos estranhos que acontecem na floresta. Principalmente quando a caça está sendo capturada pelo cruel caçador de forma abusiva.
E mesmo que embora ele entenda que o caçador precisa sobreviver, ele não aceita que mate além de suas necessidades existenciais, ou seja, além de matar a fome dos seus filhos.
Não admite ver a figura do caçador a cometer injustiças perseguindo e matando as fêmeas quando prenhas ou causando danos aos filhotes, nesse caso revela-se extremamente agressivo ao caçador conseguindo iludi-los sob a feição de caça e levando-os para longe, fazendo com que se percam, passem fome, sede, e outros temores florestais. Entre outras graças eles imitam a voz humana para atrair os caçadores. Protege Animais, plantas e tudo que faz parte daquele mundo natural que é dele.
Mas não é de hoje essa história: a lenda teve inicio na chegada dos portugueses ao território onde hoje é o Brasil. Uns diziam ser um demônio ou um mau espírito, outros o viam como um duende benfazejo, um gnomo ou ainda um bicho-papão para assustar as crianças.
A primeira referência registrada sobre essa lenda foi no relato do jesuíta José de Anchieta, em um documento datado de 1560, onde José de Anchieta conta: “Havia espectros noturnos, ou antes, demônios, os quais costumam os índios aterrar-se…” É causa sabida pela boca de todos, corre que há certos demônios, a quem no Brasil chamam de Curupira, que acometem aos índios no mato, dão-lhe açoites, machucam-nos e matam-nos. São testemunhas disto os nossos irmãos, que viram algumas vezes, os mortos, por eles. Por isso, costumavam os índios deixar em certos caminhos que por ásperas brenhas vão ter ao interior da terra, no cume da mais alta montanha, quando por cá passam, penas de aves, abanadores, flechas e outras coisas semelhantes como uma espécie de oblação, rogando fervorosamente aos Curupiras que não lhes façam mal“.
Luís da Câmara Cascudo (estudioso renomado da cultura popular brasileira) descreve a ação do Curupira em sua obra Geografia dos mitos brasileiros da seguinte forma: “vigiando árvores, dirigindo as manadas de porcos do mato, veados e pacas, assobiando estridentemente, passa a figura esguia e torta do CURUPIRA, o mais vivo dos duendes da floresta tropical”.
Como já dito anteriormente, as lendas não são verdades, nem mentiras comprovadas, e sua influência na contemporaneidade é tão intensa, que vez por outra surgem casos isolados no noticiário de Lobisomem, papa figo, e curupira amedrontando a população.
Pelo sim e pelo não, as pessoas criam suas defesas e no caso do Curupira, conta-se que ao entrar em uma floresta caso alguém o encontre, para conseguir fugir dele e de seus encantos deve pegar o cipó e fazer dele uma bolinha, tecendo o cipó de modo a esconder a ponta, depois jogar a bola o mais distante possível para que o curupira curioso fique intertido com a atividade de desenrolar a bola de cipó e achar a ponta. Dizem que por esse “menino” ser muito curioso, acaba trocando o alvo pela curiosidade de saber onde está a ponta do novelo de cipó e desemaranhá-lo.
Uma forma de conquistar sua “confiança” e pedir-lhe ajuda é oferecendo-lhe cachaça, fósforo e fumo. Este ofertório é para que o indivíduo tenha fartura nas caçadas, pescarias e roçados.
Agora que você já sabe algumas coisas sobre o Curupira, nada de se aventurar por dentro das florestas brasileiras a fim de ver esse mito, mas se quer saber mais sobre ele, basta procurar estudos sobre o folclore do Brasil e assim, além das informações sobre o Curupira, você terá também sobre várias outras lendas e mitos que encontramos no nosso país.
