Durante o século XVIII, as ideias iluministas e o pensamento liberal alimentaram ainda mais algo que já vinha sendo cogitado nas Américas: diversos movimentos em prol da Independência das colônias. No Brasil ocorreram diversos movimentos, todos voltados para a ideia de ruptura do domínio português sobre as nossas terras e produtos. Uma dessas revoltas foi à revolta dos alfaiates, também chamada de Conjuração Baiana, que ocorreu no ano de 1789.
O Que Foi a Revolta Dos Alfaiates?
A Conjuração Baiana ficou conhecida como Revolta dos Alfaiates, pois diversos membros que participaram da sua criação exerciam tal profissão. O movimento tinha caráter emancipacionista, ou seja, desejava a independência do Brasil, além de propor mais igualdade social, diante de um governo democrático e republicano, onde haveria livre comércio e abertura dos portos do país, além de aumentar o salário dos soldados.
O movimento foi caracterizado por ter a participação de pessoas mais humildes, como bordadores, sapateiros, ex-escravos e alfaiates. Influenciados pelo iluminismo, que estava ganhando força após a Revolução Francesa, pelos movimentos de Independência em outros países, como no Haiti e principalmente os Estados Unidos e também pela Inconfidência Mineira, que estava sendo tramada na Capitania de Minas Gerais.
Qual Foi a Causa Da Revolta Dos Alfaiates?
Durante o ano de 1798 toda a Europa vinha enfrentando crises em seu meio político, devido às conquistas comandadas por Napoleão, o que culminaria na vinda da família real para o Brasil no ano de 1808. A França teve forte influência nesse movimento, inclusive sendo sondada a possibilidade de ela interferir por meio de militares para apoiar o movimento na Bahia contra a monarquia Portuguesa.
A Capitania da Bahia tinha sua economia baseada principalmente na exportação e na fabricação de cana-de-açúcar, porém, esse produto estava entrando em decadência desde o final do século XVII, se recuperando até certo ponto no século XVIII.
A produção de tabaco também era forte na economia da região, que servia coo moeda de troca com traficantes de escravo, porém, tal prática era ilegal e ia contra os desejos da Corte Portuguesa. O produto também era trocado por produtos de outros países europeus, o que violava o pacto colonial, que dizia que o Brasil só poderia comprar de Portugal.
Devido a esses problemas, a Coroa decidiu criar regras para controlar o comércio da Bahia. Uma delas era de que todos os produtores deveriam cultivar alguns alimentos, para que a fome fosse evitada, mas isso irritou os grandes produtores, pois os seus lucros seriam reduzidos. Com isso, eles desobedeceram às ordens que receberam, e continuaram plantando somente a cana-de-açúcar. A partir de então, o preço de alimentos básicos subiu muito nesse momento, principalmente da mandioca, que era um dos principais alimentos utilizados na região.
Além disso, havia o aumento da população escrava para a indústria da cana, o monopólio dos comerciantes portugueses, e o lucro alto que trazia rendas somente para os senhores de engenho.
Com toda essa situação estabelecida, a população começou a se revoltar e estar extremamente insatisfeita na forma em que ela conduzida, quadro que perdurou por alguns anos, até o momento que a Coroa decidiu que Salvador não seria mais a capital da colônia e ela passaria para o Rio de Janeiro, isso fez com que a atenção na região diminuísse e a revolta populacional ganhasse ainda mais força, ganhando o apoio de outras colônias e seguindo as ideias iluministas iniciadas pela França.
Portanto, a Revolta dos Alfaiates não teve somente uma causa, ela ocorreu devido a vários descontentamentos que se uniram e sucumbiram em um movimento que deseja lutar contra os problemas encontrados na sociedade.
Quais Eram as Propostas Da Revolta Dos Alfaiates?
A Conjuração Baiana tinha seis pontos principais sendo eles: abolição da escravatura, diminuição dos Impostos, Proclamação da República, abertura dos Portos, aumento salarial e fim do Preconceito.
Quem Eram Os Líderes Do Movimento?
Cipriano Barata foi um dos principais líderes do movimento, ele era um médico cirurgião, conhecido como médico dos pobres. Um dos principais pontos abordados era a instalação de um governo igualitário, onde as pessoas recebessem mérito de acordo com as suas capacidades. Eles começaram a divulgar as ideias por meio dos escritos de um soldado, Luiz Gonzaga das Virgens e panfletos criados por Cipriano.
Além de Cipriano, os outros líderes eram Luíz Gonzada das Virgens e Lucas Dantas, ambos eram soldados, e João de Deus Nascimento e Manuel Faustino dos Santos Lira, ambos alfaiates.
Como foi a Revolta?
No dia 12 do mês de agosto do ano de 1798 alguns membros do movimento estavam distribuindo panfletos na porta das igrejas, o que acabou alertando as autoridades, que reagiram e os prenderam. Os que foram detidos foram interrogados, e acabaram delatando os demais participantes.
Um dos panfletos dizia o seguinte: “Animai-vos Povo baiense que está para chegar o tempo feliz da nossa Liberdade: o tempo em que todos seremos irmãos: o tempo em que todos seremos iguais.”
Além de distribuírem os panfletos, eles também os fixaram em diversas esquinas e praças, como na Praça do Palácio, nas paredes de Igrejas, e em diversos locais de grande circulação. Neles, eles convocavam a população para que ela se juntasse a revolta e juntos todos retirassem Portugal do poder.
No dia que eles foram detidos, o governador da Bahia, d. Fernando José de Portugal e Castro, iniciou uma investigação para descobrir quem eram os mandantes de tal movimento, durante a investigação, fizeram avaliações na ortografia dos panfletos, identificando Domingos da Silva Lisboa como escritor.
Durante a investigação encontraram na Igreja do Carmo duas cartas que exaltavam a revolução, assinadas por “anônimos republicanos”.
Iniciou então um período de repressão, onde muitas pessoas foram denunciadas até chegarem a quarenta e nove pessoas detidas. A maioria buscou a sua inocência. Eles foram interrogados e também deviam se confessar para os membros da Ordem dos Carmelitas Descalços. Alguns deles disseram se arrepender do movimento, outros fingiram condições de loucura, para poderem se justificar.
No dia 8 do mês de novembro do ano de 1799 as sentenças dos envolvidos foram executadas. Lucas Dantas do Amorim, Manuel Faustino dos Santos Lira, Luís Gonzaga das Virgens e João de Deus Nascimento foram condenamos ao enforcamento. Eles foram executados em praça pública, com a presença da população, além de uma banda. Além disso, familiares e as memórias relacionados aos mesmos foram totalmente difamadas por gerações.
As cabeças deles foram expostas em alguns pontos da cidade, uma no Campo do Dique do Desterro, uma no Cruzeiro de São Francisco, uma na Rua Direita do Palácio e a outra na Praça da Piedade. Conta-se que devido ao calor intenso de Salvador, logo as cabeças entraram em decomposição, o que atraiu centenas de urubus na cidade e tornou o ar da cidade “irrespirável”, sendo elas recolhidas cinco dias depois da execução.
Alguns membros da Revolta tiveram penas bem mais brandas, condenados ao degredo, ou seja, exilados do Brasil, foram enviados para locais com domínio holandês, dinamarquês ou inglês, distantes do país. Outros tiverem degredo decretado por menos tempo, alguns em presídios, outros em países do continente africano. Todos eles foram condenados a 500 chibatadas e obrigados a assistir a execução dos outros quatro.
Destacam-se as condenações de Hermógenes Francisco de Aguilar Pantoja e José Gomes de Oliveira Borges, que ficam detidos somente por seis meses, e Cipriano Barata, que ficou detido por um ano e quatro meses.
Qual Foi O Legado Deixado Pela Revolta Dos Alfaiates?
Por envolver indivíduos de diversos setores urbanos, principalmente os mais marginalizados que eram prejudicados na riqueza colonial, demonstra a força que esses tiveram para mudarem um sistema que os impedia de ter perspectiva de ascensão social.
Esse foi um dos projetos mais radicais em relação às revoltas do período colonial, já que esse era um movimento que tinha reivindicações que afetavam, principalmente, as elites, além disso, uma sociedade democrática e igualitária é uma das propostas mais fortes a ser feita, com o pensamento de todos sendo realmente na sociedade em que viviam.
O movimento foi tão marcante na região que fez com que se eclodisse um novo movimento emancipacionista no ano de 1821, que culminaria na guerra pela Independência da Bahia.