A literatura negra, também chamada de literatura afro-brasileira é uma parte da literatura do país onde podemos encontrar livros temáticos que irão tanto descrever como reafirmar a cultura negra no Brasil. Há diversos livros nessa vertente, como de antropologia, sociologia, religião, arqueologia, história, além de livros de romance e de educação infantil.
Os Negros no Brasil
A vinda do povo africano para o Brasil se deu após a chegada dos portugueses e da transformação do Brasil em colônia. Havia uma necessidade de mão de obra para cuidar das grandes fazendas de cana de açúcar no território do país, e a solução encontrada foi trazer a mão de obra escravizada do litoral africano, território que já havia sido explorado e dominado pelo povo português.
Os portugueses também usavam a escravização como uma forma de punição aos povos africanos, que tinham suas próprias religiões que eram diferentes do cristianismo.
O tráfico negreiro durou séculos, no território brasileiro os negros eram tratados com força e violência, eram constantemente castigados fisicamente para se mantiver dentro das condições absurdas de trabalho em que foram submetidos.
Os negros eram usados como mão de obra para a agricultura e mineração. Claro, o cenário gerava revolta nos escravos, que conseguiram resistir de forma intensa à escravatura, sendo registradas muitas revoltas e fugas dos escravos. É desse período que ainda temos enraizada em nossa cultura a discriminação com o povo negro.
Durante os séculos XV a XIX foram escravizados mais de dez milhões de negros em toda a América, e o sistema foi responsável por milhares de mortes de pessoas negras que não resistiam ao intenso trabalho e fortes castigos. Ainda hoje é possível ver marcas da época da escravidão em nossa cultura, sendo a mais evidente delas o forte racismo que resiste na população brasileira.
A Literatura Negra
Literatura Negra
O movimento da literatura negra surgiu no Caribe e nos Estados Unidos, e tem como objetivo tratar de assuntos que valorize a identidade e cultura africana, valorizando dessa forma o povo negro que viveu por anos sendo rejeitado pela sociedade.
No Brasil a literatura afro-brasileira vem se desenvolvendo cada vez mais, conseguindo colocar personagens negros em evidência. No ano de 2003 o presidente Luís Inácio Lula da Silva sancionou a lei 10.639, que incluiu o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas, um grande passo para que haja uma maior dedicação a esse tipo de literatura no Brasil.
É importante evidenciar que no Brasil há uma miscigenação entre a literatura de brancos e negros, isso é algo que esta intimamente ligada à cultura brasileira, dessa forma, há uma dificuldade em definir uma obra literária como pertencente e literatura afro-brasileira ou somente a literatura brasileira.
Outro ponto importante a se destacar é que por séculos a literatura passou por um processo de “embranqueamento”, ou seja, as obras foram alteradas para agradar o público, muitas autores também não ganharam notoriedade por serem negros. Isso tudo resultou em pouco registro de obras literárias na literatura afro-brasileira, sendo que essa se encontra em um processo de construção na atualidade.
Há diversos critérios para definir uma obra literária como sendo pertencente a literatura negra, um deles é o fato de haver representação de negros no texto, ou ainda se o próprio autor da obra for de origem negra.
Confira Alguns Autores Negros Brasileiros De Grande Importância:
Domingos Caldas Barbosa:
Domingos Caldas Barbosa
Nascido no Rio de Janeiro no ano de 1738 foi um sacerdote, músico e poeta brasileiro, que escreveu modinhas e lundus, a maioria sendo feito para ser cantado. Mudou-se para Lisboa e lá se radicou, morrendo no ano de 1800. Pode-se destacar entre suas obras: Epitalâmio (publicada em 1777) e Viola de Lereno (publicada em 1798).
Manuel Inácio da Silva Alvarenga:
Manuel Inácio da Silva Alvarenga
Nascido também no Rio de Janeiro no ano de 1749 foi um poeta luso brasileiro que expressou através dos seus poemas uma visão negativa do homem negro, apesar de não comentar muito sobre tal tema. Ele morreu no ano de 1814. Pode-se destacar entre suas obras: O Desertar, poema herói-cômico (publicado em 1774) e Glaura (publicado em 1799).
Antônio Gonçalves Dias:
Antônio Gonçalves Dias
Nasceu em Caxias, no Maranhão, no ano de 1823 e foi um advogado, poeta, jornalista, teatrólogo e etnógrafo brasileiro. Ele tratou da temática negra em suas poesias, e é um dos grandes influentes da escola literária brasileira chamada de indianismo, que tinha como objetivo tratar o índio como um herói. Ele morreu no ano de 1864, em Guimarães, também no Maranhão. Pode-se destacar entre suas obras: Primeiros cantos (publicado em 1846) e Segundos cantos e Sextilhas de Frei Antão (publicado em 1849).
José do Patrocínio:
José do Patrocínio
Nasceu no ano de 1853, na cidade de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. Foi um jornalista, farmacêutico, escritor, jornalista e ativista político, sendo muito importante para o movimento Abolicionista. Suas obras possuem um caráter realista, de critica e análise das questões sociais. Morreu no ano de 1905 no Rio de Janeiro. Pode-se destacar entre suas obras: Coqueiro ou a pena de morte (publicado em 1877) e Pedro Espanhol (publicado em 1884).
João da Cruz e Souza:
João da Cruz e Souza
Nascido em Florianópolis, Santa Catarina, no ano de 1861, era chamado de Dante Negro ou Cisne Negro, sendo um dos percursores do simbolismo no Brasil. Ele é considerado o único escritor negro de raça pura na literatura brasileira. Morreu no ano de 1898 em Antônio Carlos, no estado de Minas Gerais. Pode-se destacar entre suas obras: Broquéis (publicado em 1893) e Últimos sonetos (publicado em 1905).
Afonso Henrique de Lima Barreto:
Afonso Henrique de Lima Barreto
Conhecido como Lima Barreto, nasceu no Rio de Janeiro, no ano de 1891. Publicou durante sua vida: romances, contos, crônicas e sátiras, e é possível evidenciar em suas obras as contradições da sociedade. Morreu no Rio de Janeiro, no ano de 1922. Pode-se destacar entre suas obras: Recordações do escrivão Isaías Caminha (publicado em 1909) e Triste fim de Policarpo Quaresma (publicado em 1911).
Lino Guedes:
Lino Guedes
Nascido na cidade de Socorro, no estado de São Paulo, no ano de 1907, foi um poeta de grande renome, seus escritos possuíam um tom prosaico, assimilando os valores da sociedade branca. Morreu no ano de 1951. Pode-se destacar entre suas obras: O canto do cisne preto (publicado em 1927) e Negro preto, cor da noite (publicado em 1932).
Solano Trindade:
Solano Trindade
Nasceu em Recife, Pernambuco, no ano de 1908. Foi um poeta, pintor, folclorista, ator, cineasta, teatrólogo e militante brasileiro. Trouxe em suas obras a reivindicação social do negro, buscando melhores condições de vida. Morreu no Rio de Janeiro, no ano de 1974. Pode-se destacar entre suas obras: Poemas d’uma vida simples (publicado em 1944) e Cantares ao meu povo (publicado em 1961).
Maria Firmina dos Reis:
Maria Firmina dos Reis
Nascida em São Luís, no Maranhão, no ano de 1825, é considerada a primeira romancista brasileira. Faleceu na cidade de Guimarães, no Maranhão, no ano de 1917. A sua obra de maior destaque é o romance Úrsula (publicado em 1859), onde os escravos tem uma participação importante no enredo.
Carolina Maria de Jesus:
Carolina Maria de Jesus
Carolina nasceu em Minas Gerais, no ano de 1914, ela é uma das primeiras escritoras brasileiras e uma das mais importantes do país. O seu livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada (publicado em 1960) alcançou repercussão internacional, sendo uma produção elogiada pelo seu caráter documental e contestação social. Além dessa obra pode-se também destacar: Pedaços de fome (publicado em 1963) e Diário de Bitita (publicado em 1986). Faleceu no ano de 1977 em São Paulo capital.
Machado de Assis:
Machado de Assis merece destaque, já que é considerado o maior escritor afro-brasileiro, além de ser considerado um dos maiores nomes da literatura brasileira em geral, senão o maior.
Ele nasceu no Rio de Janeiro, no ano de 1839, e era neto de escravos, descendente de afro-brasileiros.
Apesar de ser negra, a maioria das suas obras é voltada para o público branco, já que na época em que viveu mais de 85% da população era analfabeta. Ele trouxe muito pouco do negro para suas obras, em pequenos trechos.
No geral, ele não expressava características raciais em suas obras mais famosas, mas há diversas crônicas suas que abordam temas sobre a vida dos negros, essas menos conhecidas do público.
Machado de Assis
Como ele escrevia através de pseudônimos para proteger o seu cargo público, a maioria delas não é de sua autoria, mas elas foram reunidas na obra “Machado de Assis- Afro Descendente”. Ele sempre buscou mostrar o negro como qualquer ser humano, dando a dignidade ao negro assim como a todos.
Entre suas obras pode-se destacar: Memórias Póstumas de Brás Cubas (publicado em 1881) e Dom Casmurro (publicado em 1900). Ele faleceu no Rio de Janeiro no ano de 1908.
O Negro Como Personagem:
Diversas obras brasileiras têm como um dos seus personagens principais uma pessoa negra, vamos conhecer algumas delas:
Luana, A Menina Que Viu O Brasil Neném ( escrito por Oswaldo Faustino, Arthur Garcia e Aroldo Macedo):
O livro tem como personagem principal Luana, uma criança de oito anos, que luta capoeira e possui um berimbau mágico, que a leva para diversas épocas diferentes, dessa forma, ela consegue acompanhar a história do descobrimento do Brasil e a diversidade da cultura e de etnias do povo brasileiro.
Luana, A Menina Que Viu O Brasil Neném
Menina Bonita do Laço de Fita (escrito por Ana Maria Machado):
Livro voltado para o público infantil coloca em cena um coelho branco que se apaixona por uma menina negra, e através da história são debatidos temas como igualdade racial e auto estima das crianças negras.
Menina Bonita do Laço de Fita
O menino Marrom (escrito por Ziraldo):
O livro conta a história de amizade entre um menino negro e um branco, e através da história de suas vidas é possível notar as diferenças e os preconceitos humanos em diversos momentos de suas vidas.
O Menino Marrom
Lendas da África (escrito por Júlia Emílio Brás):
O autor brasileiro explora as fábulas africanas de maneira simples, para todo o mundo entender, passando o conhecimento do folclore africano.
Lendas da África
O Cabelo de Lelê (escrito por Valéria Belém):
A história gira em torno de Lelê, uma menina negra que não gosta de seus cabelos cacheados. Após começar a ler um livro, ela entende a origem do seu cabelo e começa a valorizar mais a sua beleza.
Cabelo de Lelê
Num Tronco De Iroko Vi a Iúna Cantar (escrito por Erika Balbino):
O livro tem como personagens principais os irmãos Cosme, Damião e Doum, que junto de seus amigos passam por uma jornada de aventuras relacionando o corpo e música africana, através da capoeira e de figuras lendárias das religiões de matriz africana.
Num Tronco De Iroko Vi a Iúna Cantar
O Mar que Banha a Ilha de Goré (escrito por Kiusam de Oliveira)
A brasileira Kika é descendente de africanos, e a história narra sua visita a Ilha de Goré, onde viveram seus ancestrais. Em sua visita ela conhece Laith, um menino de treze anos que é seu guia turístico na ilha, através da amizade que os dois vão desenvolvendo também é mostrado mais da história afro-brasileira e de como o negro deveria ser mais inserido na cultura brasileira.
O Mar que Banha a Ilha de Goré
Amanhecer Esmeralda (escrito por Ferréz)
A história gira entorna de Manhã, uma criança pobre que vive sob muitas responsabilidades para conseguir sobreviver a cada dia.
Amanhecer Esmeralda
Um dia ela ganha de seu professor um vestido esmeralda, que faz com que ela mude a sua forma de ver a si mesmo e o mundo ao seu redor.
