A família real portuguesa partiu rumo ao Brasil no dia 28 de novembro de 1807 e chegou a território nacional no dia 22 de janeiro de 1808. O motivo que fez com que o Príncipe-Regente, D. João, e sua família viessem para nosso território foi a ameaça iminente de invasão de Napoleão Bonaparte ao território português. Continue lendo para entender como essa transferência foi uma estratégia política e quais foram as suas consequências.
Motivos da Transferência da Família Real Portuguesa Para o Brasil
No ano de 1806 o imperador francês Napoleão Bonaparte decretou o bloqueio continental que determinava que os países da Europa fechassem seus portos para os navios ingleses. Em paralelo, Napoleão, negociou em segredo o Tratado de Fontainebleau (1807) em que ficava acordado que os franceses poderiam passar pela Espanha para invadir Portugal dando como contrapartida para os espanhóis um pedaço do território português.
A estratégia de Napoleão era uma represália ao fato de que Portugal não aderiu ao bloqueio continental contra os ingleses porque os reinos tinham uma aliança comercial e política de muito tempo. Contudo, os portugueses também estavam agindo em sua defesa, no dia 22 de outubro de 1807 o Príncipe-Regente D. João e o rei inglês Jorge III (1738 a 1820) assinaram uma convenção secreta que estabelecida a transferência da sede da monarquia de Portugal para o Brasil.
O documento ainda decretava que as tropas britânicas ficariam instaladas na Ilha da Madeira por algum tempo. O governo português assumiu o compromisso de assinar um tratado comercial com a Inglaterra assim que estivesse estabelecido no Brasil. Dessa forma D. João decidiu que toda a família real viria para o Brasil assim como empregados e ministros. Um total de 15,7 mil pessoas se lançaram ao mar rumo a colônia, isso era 2% da população de Portugal nessa época.
O Embarque da Família Real
Embora alguns historiadores considerem o número registrado de pessoas que viajaram para o Brasil um tanto exagerado foi uma situação que gerou grande comoção necessitando de oito naus, três brigues, três fragatas e duas escunas para o transporte. Também havia quatro navios da esquadra britânica acompanhando a corte.
E não foram somente as pessoas que embarcaram rumo ao Brasil, também foram colocados nos navios documentos, a biblioteca real, obras de arte, móveis, dinheiro entre outros itens. Aqueles que ficaram em solo português foram aconselhados a receber os franceses de forma pacífica para evitar mortes.
O general Junot (1771-1813) foi o comandante da invasão a Portugal e ficou no país até ser derrotado pelos ingleses em agosto de 1808. A terrinha passou então a ser governada por um Conselho de Regência que era formado por fidalgos do reino.
Como Foi a Travessia da Família Real?
A viagem marítima durou 54 dias e por marcada por absoluta insalubridade, no dia 22 de janeiro de 1808 os portugueses desembarcaram em Salvador, Bahia. A família real ficou na cidade por mais de um mês tendo sido recebida com festas. A passagem de D. João por Salvador resultou na assinatura do Tratado de Abertura dos Portos às Nações Amigas e também na criação da Escola de Cirurgia da Bahia.
Em 26 de fevereiro a corte foi para o Rio de Janeiro que era então a capital do Império. A família real chegou à cidade maravilhosa no dia 7 de março de 1808 e como não havia alojamentos suficientes para toda a comitiva do palácio diversas residências foram solicitadas pela realeza. Os nobres escolhiam as casas que desejavam e então a fachada da residência recebia a seguinte inscrição: P.R que significava “Príncipe Regente”, os moradores deviam então deixar suas casas. A população associou o P.R a “Ponha-se na Rua”.
Quais Foram as Consequências da Chegada da Família Real?
A chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro acarretou em diversas melhorias estruturais na cidade. Os nobres foram acomodados também em quartéis e conventos de forma que essas edificações passaram por algumas reformas. A abertura dos portos do Brasil ajudou a diversificar setores variados como o de móveis e moda com a possibilidade de comprar itens de outras nações.
O Príncipe-Regente ainda fundou a Imprensa Régia que deu origem a Gazeta do Rio de Janeiro e foram criados o Jardim Botânico, o Laboratório Químico-Prático, a Academia da Marinha, a Real Fábrica de Pólvora entre outros. O Brasil passou a ter um leque mais amplo no tocante a comércio e indústrias.
Incremento da Vida Cultural do Brasil
A cultura ganhou significativamente com a transferência da família real para o Brasil. A Real Biblioteca de Portugal foi transferida completamente de Lisboa para a cidade do Rio de Janeiro no ano de 1810. Esse acervo contava com 60 mil volumes dentre os quais estavam manuscritos, livros, medalhas e mapas. Essa foi a base para a criação da Biblioteca Nacional.
Foi criado em 1813 o Real Teatro São João para oferecer entretenimento aos integrantes da corte. Atualmente é o Teatro João Caetano. Quando as guerras napoleônicas acabaram muitos artistas franceses precisaram recorrer a D. João para que pudessem voltar a trabalhar e com isso foi criada a Missão Francesa que permitiu a abertura então da Escola Real de Artes Ciências e Ofícios.
A Independência do Brasil
A vinda da família real para o Brasil acelerou consideravelmente o processo de independência do país. No ano de 1815, quando as guerras napoleônicas acabaram, o Brasil passou a ser considerado parte do reino que ficou assim: Reino Unido de Portugal e Algarves, nosso país não era mais uma colônia.
Essa mudança foi necessária devido ao fato de que os demais dirigentes de países europeus não reconheciam a autoridade de D. João enquanto ele estivesse numa colônia. A família real ter permanecido no Brasil foi de grande importância para a unificação do território uma vez que reuniu população e elite entorno do grande soberano. A Inglaterra passou a ter ainda mais interesse comercial com o Brasil.
Ao abrir os portos brasileiros, Portugal, perdeu o monopólio do comércio e despertou na elite agrária o desejo de ser independente do país europeu. Os ingleses viam o Brasil como um importante mercado fornecedor e consumidor. D. João precisou retornar a sua terra natal em decorrência da Revolução Liberal do Porto. Nesse momento D. Pedro, o filho de D. João, se aproximava da elite agrária.
No dia 7 de setembro de 1822 a independência é declarada por D. Pedro I, o primeiro imperador. Ainda que estivesse independente de Portugal as coisas não mudaram muito com a promulgação da primeira Constituição de 1824 que mantém a monarquia, a escravidão e dá a religião católica status de religião oficial.
Gostou de saber mais sobre a chegada da família real ao Brasil?