Patativa do Assaré, ou Antônio Gonçalves da Silva, nasceu em 1909 e morreu no ano de 2002. Poeta popular do nordeste que compôs diversos forrós pé-de-serra. Pode ser considerado como um dos grandes ícones da cultura nordestina do século XX. Nasceu em família humilde, do mesmo modo que grande parte do panteão de compositores nordestinos antigos. Vivia das subsidências da agricultura.
Grandes tragédias pessoais marcaram a infância de Patativa do Assaré. Ficou com um dos olhos cegos em consequência de problemas de saúde. Seu pai morreu quando Patativa ainda tinha oitos ano de idade, momento no qual entrou ao roçado no intuito de ajudar a família. Ganhou pouca educação, fato que não atrapalhou na sua mente criativa em fazer repentes ou serem apresentadores de eventos festivos.
Juventude e Sucesso!
Aos vinte anos recebeu o apelido de Patativa, em homenagem a ave que tem o mesmo nome e surge com frequência na paisagem do nordeste brasileiro, com canto considerado belo e incomparável. Foi na juventude que o artista começou a frequentar feiras famosas, caso da Feira do Crato, na qual era participante de programa radiofônico na Rádio Araripe, recitando os seus poemas.
Sua infância também teve pontos positivos, como as constantes histórias que ouvia dos ponteios de viola ou nos antigos folhetins de cordel que serviram como inspiração direta ao seu desenvolvimento artístico. A história aponta que quando tinha oito anos de idade trocou a ovelha de estimação do pai em troca de uma viola.
Em um dia de trabalho normal, Patativa foi ouvido por José Arraes de Alencar, que ficou convencido de maneira súbita sobre o potencial do artista e por consequência lançou o seu primeiro livro: Inspiração Nordestina (1956), livro que chegou à sua segunda edição em 1967, quando mundo o nome para: Cantos do Patativa.
No início dos anos setenta do século XX foi lançada a coletânea de poemas que consagrou o autor em nível nacional. Em 1979 foi publicado o livro “Cante Lá que Eu Canto Cá”. O sucesso dos anos noventa aconteceu em consequência de duas obras: “Ispinho e Fulô” e “Aqui tem coisa”.
Patativa do Assaré: Sucesso Nacional
Ele foi casado com a Belinha, mulher com que teve nove filhos. Conquistou popularidade em nível nacional, com diversos prêmios, homenagens e títulos. De maneira publica, Patativa disse que nunca teve expectativa de fazer sucesso, sendo que sempre foi feliz; alegre e ousado, independente das suas condições sociais. Também nunca teve a intensão de fazer profissão utilizando os versos.
Não se pode esquecer o fato de que além dos livros, Patativa possui diversos folhetos de cordel e poemas que foram publicados em revistas e jornais. A crítica apontava Assaré como o poeta mais popular do Brasil em todos os tempos. Nenhum autor na história conseguiu representar o povo brasileiro com tamanho pragmatismo como Patativa do Assaré. Estudar história do Brasil sem conhecer o artista é a mesma coisa que deixar de saber como aspira à alma da nação.
Dizia com frequência que não é necessário ser professor para se tornar poeta, apontando que os traços eruditos estão longe de descrever a realidade da vida popular, ou seja, da maioria do povo. “Basta recolher as flores brotadas nas árvores que existem no sertão”, afirmava o artista.
Cantava versos que evidenciavam as prosas e contrastes encontrados no sertão nordestino. Fazia questão de ressaltar a beleza da natureza. Talvez seja por este motivo que os seus traços ainda são populares na atualidade, principalmente por causa da mudança de consciência do país com relação ao desenvolvimento sustentável.
Qualquer grupo contemporâneo que produz literatura de cordel tem influência direta do autor. Até mesmo Luís Gonzaga, o rei do baião, gravou diversas canções compostas por Patativa do Assaré, considerada esta como a pareceria de arte mais brasileira do século XX. “A triste partida” foi canção de maior sucesso.
Existem alguns críticos literários que encaram as rimas como criticas diretas relacionadas com as desigualdades sociais em terras nacionais. Sua vida chegou a ser retratada no teatro com a peça ‘Patativa do Assaré – o cearense do século’, escrita por Gilmar de Carvalho.
Patativa iniciou o trabalho duro, pegando na enxada ainda quando menino, mesmo estando cego de um olho. O poeta chegou a afirmar que chegou a passa fome no sertão por causa do excesso de miséria e dor. De qualquer maneira, mesmo o autor chegou a afirmar que foi preciso sofrer para se tornar poeta de corpo e alma.
Humildade e Memória de Patativa
Interessante notar que a humildade representava a principal característica de Patativa, que mesmo rico e famoso, nunca deixou de ser agricultor na cidade de Cariri, no interior do Ceará aonde nasceu. A característica da sua arte tem como ponto fundamental traços de oralidade. Poemas que eram feitos em qualquer hora e guardados na própria cabeça com incrível capacidade de memória. Patativa do Assaré podia recitar qualquer um dos seus poemas mesmo com noventa anos de idade.
A transcrição da obra representa apenas as significações de formas não verbais. As características de oratórias somente puderam ser demonstradas pelo próprio autor enquanto esteve vivo. A complexidade dos traços de Assaré também acontece pela capacidade de criar sequências de verbos do tipo camonianos, como os sonetos da época clássica, para as poesias populares de origem nordestinas. Poesia métrica que o consagrou por todos os cantos deste imenso país verde e amarelo.
Principais Livros de Poesia
1956: Inspiração Nordestina: Cantos do Patativa;
1978: Cante Lá que Eu Canto Cá;
1988: Ispinho e Fulô;
1991: Patativa e Outros Poetas de Assaré (Organizado por Geraldo Gonçalves de Alencar);
1993: Cordéis (caixa com treze folhetos);
1994: Aqui Tem Coisa;
2000: Biblioteca de Cordel: Patativa do Assaré;
2001: Digo e Não Peço Segredo (Organizado por Guirlanda de Castro e Danielli de Bernardi);
2001: Balseiro Dois. Patativa e Outros Poetas de Assaré (Organizado por Geraldo Gonçalves de Alencar);
2002: Ao pé da mesa;
2003: Antologia Poética (Organizado Gilmar de Carvalho);
2004: Cordéis e Outros Poemas
Principais Poemas: Peixe; O Poeta da Roça; Apelo dum Agricultor; A Triste Partida; Cante Lá que eu Canto Cá; Coisas do Rio de Janeiro; Meu Protesto; Mote/Glosas; Se Existe Inferno; Vaca estrela e Boi Fubá; Você se Lembra? Vou Vorá e Caboclo Roceiro.
Artigo escrito por Renato Duarte Plantier