Cultura: Aplicação da Derrama
Quando estudamos história do Brasil nas escolas, nós ouvimos falar muito sobre Tiradentes, sobre a inconfidência mineira, sobre os desdobramentos desse movimento histórico, no entanto, pouco se escuta de fato sobre a derrama, de uma maneira mais completa, considerando toda a sua influência e o peso que ela teve para o Brasil, tanto na sua época, como depois de seu tempo. Durante os estudos é falado muito rapidamente sobre a derrama, portanto, aqui vamos explicar um pouco melhor o que ela é e porque ela representa tanto para o Brasil.
Primeiramente é preciso contextualizá-los sobre o momento histórico, o qual nosso país passava naquele ponto da era colonial. O Brasil do século XVIII já não era referência internacional em relação as plantações de cana de açúcar, pois essa cultura agrícola passou a ser amplamente cultivada em outras localidades como no Caribe e em regiões do continente africano em sua porção equatorial, o que fez o seu preço no mercado mundial cair drasticamente, de acordo com a lei da oferta e da procura. Em consequência dessa realidade o Brasil parou de ganhar as enormes quantias em dinheiro que antes ganhava a partir desse tipo de plantação.
Tiradentes
Os resultados dessa mudança foi que a coroa portuguesa passou a procurar novas formas de ganhar dinheiro explorando o Brasil e acabou comprovando os rumores de que na capitania onde hoje é o estado de Minas Gerais, haviam muitas minas de pedras preciosas e de ouro. Com isso os rendimentos do Brasil e o ganho de Portugal, passou a se concentrar em grande parte nesse lugar, em especial na região de Ouro Preto, no entanto, o alto volume extraído das minas passou a cair após um certo período e por esse motivo a coroa portuguesa fazia de tudo para arrecadar mais e mais dinheiro, ainda que fosse de forma abusiva, afinal naquela época o Brasil “era apenas mais uma colônia” para eles.
Os impostos passaram a aumentar significativamente, por outro lado os brasileiros e donos de minas não conseguiam pagar esses impostos e cobranças, já que o seu volume de produção já vinha sendo bem menor há um bom tempo, com isso muitas vezes deixavam de pagar, pois realmente não tinham como, mas os portugueses não ligavam para sua produção, dificuldades, etc., e criaram então um outro tipo de imposto, muito mais abusivo e que dava o direito de que os agentes da coroa portuguesa tomassem dos brasileiros até suas propriedades se fosse necessário, esse imposto é o qual chamamos de derrama, o que seria a última instancia do imposto do quinto, que equivalia a quantia de 100 arrobas que deveriam ser enviadas à Portugal obrigatoriamente, sobre a pena de deportação para a África.
Assim podemos entender um pouco melhor sobre o que realmente foi a derrama, que era um imposto que foi criado com a intenção de “quitar” as dívidas das pessoas com os governos locais, mas esse acerto de contas seria realizado de forma arbitraria e agressiva, tirando dos cidadãos o que quer que fossem os seus bens, recolhendo joias, propriedades, moveis, terrenos e qualquer outros pertences de valor. O ponto que é relevante e que nos faz recordar e estudar sobre a derrama, foram os desdobramentos que ela causou, sendo que um dos mais significativos entre eles foi a Inconfidência mineira.
Inconfidência Mineira
Na época da derrama, já havia muita influência europeia, no campo das ideias, no campo comportamental, no campo dos ideais, etc., por aqui no Brasil, isso porque muitos dos filhos da elite brasileira da época, que se resumia aos portugueses ou descendentes de portugueses, passava um tempo de sua juventude estudando na Europa fazendo faculdade, especializações, cursos, entre outros e quando voltavam ao nosso país, traziam consigo as ideias que estavam borbulhando em solo europeu e em solo norte americano na época, como os princípios da liberdade, igualdade, os princípios de república e os princípios de fraternidade. Lembrem-se que os Estados Unidos nesse período havia acabado de se tornar independente de seus colonizadores, quer eram os ingleses.
Tudo isso contribuiu para aumentar cada vez mais e mais a insatisfação das pessoas que moravam no Brasil, quanto aos métodos de governo de Portugal, que se tornava mais exploratório e abusivo, enquanto muitas pessoas estavam aqui empobrecendo. Essas ideias passaram a crescer dentro da mente das pessoas e com isso, iniciou-se um período de encontros, reuniões clandestinas, de palestras, de conversas, sobre se organizar um levante, uma revolução contra Portugal e exigir que eles tirassem o seu domínio do Brasil, para que nosso país pudesse por fim se tornar independente, tal como estava acontecendo no Norte da América e como estava acontecendo em países europeus, onde a monarquia absolutista estava perdendo o seu espaço e o povo pedia por governos republicanos.
No meio de tudo isso, com essas ideias como base, nasceu o movimento da Inconfidência Mineira, encabeçado e marcado por Tiradentes ou Joaquim José da Silva Xavier, como era seu nome verdadeiro.
Imagem Ilustrativa de Joaquim José da Silva Xavier
Tiradentes foi um dos principais líderes desse movimento, participou de grande parte dos encontros, falou para muitas pessoas, palestrou, fez aliados, fez amigos, em decorrência do anuncio da derrama pelo Visconde de Barbacena a Inconfidência Mineira cresceu muito e estava cada vez mais infiltrada e enraizada na elite, afinal ela foi uma movimentação da elite brasileira na época, que defendia a independência, mas principalmente os benefícios econômicos que viriam disso.
Tiradentes foi um dos principais participantes do movimento que também se preocupava com outros aspectos, como o bem estar da população, ele também tentou inúmeras vezes que os impostos arrecadados aqui, fossem melhor e mais investidos aqui mesmo no Brasil, ao invés de serem todos mandados diretamente para o uso da coroa portuguesa, mas não teve sucesso em suas empreitadas, e por fim foi traído por um amigo que considerava muito e que era muito próximo. Esse amigo entregou o movimento da Inconfidência mineira em troca de suas dívidas individuais serem perdoadas pela coroa, em seguida ele também entregou a localização de Tiradentes, que foi capturado e preso, assim como aconteceu eventualmente com outros participantes do levante.
Há algumas divergências de pesquisadores quanto à derrama ter sido cancelada antes ou depois da descoberta da Inconfidência Mineira, mas o que é mais aceito e o maior consenso é que ela foi cancelada após o movimento ser descoberto, para assim evitar um maior descontentamento popular, que poderia instigar mais levantes e até mesmo uma grande revolução. O fato é que o imposto foi suspenso, mas muitos inconfidentes permaneceram presos, até que foram julgados e sentenciados por D. Maria, rainha de Portugal e mãe de D. João VI que viria a ser depois rei de Portugal e do Brasil. Por fim a grande maioria das sentenças foi de exílio dos participantes para o continente africano e em relação à Tiradentes, a sua sentença foi a morte, para que servisse de exemplo.
Muitos dizem que Tiradentes foi escolhido para ser o único morto devido as suas condições financeiras, que em comparação aos outros presos que eram ricos e donos muitas posses, era mais precária, além disso, Tiradentes não vinha de nenhuma família tradicional ou importante, o que não causaria grande revolta entre a elite brasileira e a população. Diante de todos os fatos expostos, é possível afirmar que a derrama foi fundamental para que se criasse a figura que hoje é um dos principais símbolos na história do Brasil, Tiradentes inclusive foi peça fundamental da construção do sentimento de identidade nacional brasileira na época da república brasileira. O levante chegou aonde chegou devido ao impacto que a ameaça da derrama teve sobre o povo, principalmente sobre os mais ricos, que perderiam muita coisa com a aplicação desse imposto.
