A história é uma das ferramentas mais importantes utilizadas pela humanidade a fim de se descobrir um pouco mais sobre o passado, como todos nós surgimos, enfim, o início de tudo. E, como o nosso planeta tem mais de 4,6 bilhões de anos, é fácil deduzir o quão difícil é determinar acontecimentos que ocorreram há tanto tempo.
Não só como uma maneira de saciar a curiosidade humana, o estudo da história nos permite conhecer mais a nós mesmos, ou seja, nos posicionar como seres vivos no mundo. Em resumo, não seríamos o que somos hoje se nossos antepassados não tivessem passado por aqui, acertado e, principalmente, errado muito, pois, foram os erros que permitiram que a humanidade pudesse se desenvolver em torno deles e, assim, chegar ao que somos hoje.
Apesar de a história ser um pilar bastante importante para olharmos o passado com um olhar mais crítico, existem vários desdobramentos desta que podem auxiliar essa linha de pensamento: a antropologia. É por meio dela que os historiadores se guiam com o objetivo de entender mais sobre os humanos e o seu comportamento entre os séculos. E, nesse artigo, será mostrado a você um pouco mais sobre a antropologia americana, destacando suas principais características, entre outras curiosidades.
O Início do Desenvolvimento da Antropologia Americana
A ciência da Antropologia estabeleceu-se nos Estados Unidos por volta do século XX, se apresentando como uma fundamentação em quatro vertentes básicas, mas que se interligavam: as antropologias física, cultural, linguística e a arqueologia. O responsável por firmar a antropologia americana como disciplina foi Franz Boas, que nasceu em 1858 e morreu em 1942, quando este estava atuando na Universidade de Columbia, em Nova Iorque.
Quando do terrível acontecimento da Primeira Guerra Mundial, a AAA – American Anthropological Association era totalmente influenciada pelos boasianos – chamados assim os que seguiam os princípios de Boas – e, depois de passados 10 anos dessa dominação, a influência de Boas já tinha chegado aos departamentos de todos os cursos de antropologia das universidades.
Apesar dessa dominação, se engana quem pensa que outros movimentos contrários à Boas não existiam; existiam aos montes e não se deixavam abater pela repressão, chegando a até os outros movimentos trocarem ofensas e comentários ácidos contra a ideologia boasiana.
Mostrados como os principais em se tratando de Antropologia Americana, Boas e seus seguidores não foram os primeiros a implementar uma ideologia antropológica nos EUA. Bureau of Ethnology e seus Etnógrafos (que foi fundado em 1879) já havia realizado a coleta de dados sobre a vida e costumes dos índios há muito mais tempo. Mas, não se pode simplesmente deixar de lado os Boas, já que, com a enorme contribuição dada por estes, a antropologia pôde, enfim, ser condecorada como uma ciência, de fato. Como uma disciplina de ordem acadêmica, ela possui teorias, métodos de estudo próprios e várias linhas de pesquisas dentro das universidades estadunidenses.
Apesar de Franz Boas incentivar a pesquisa e os trabalhos de campo, o estudioso tinha como argumento o fato de que teorias muito complexas eram passíveis de desprezo, mas esse desprezo somente duraria até que pudesse obter informações satisfatórias com o intuito de poder, enfim, fazer conclusões etnológicas sobre tal teoria. Por conta desse comportamento, Boas já foi acusado de ser um niista, mas, contudo, Boas sempre foi o contrário dessa afirmação.
O estudioso também causou um verdadeiro estardalhaço entre os que o seguiam e os outros que eram críticos à sua agenda metodologista, que era “antirracista”: isso se explica pelo fato de que Boas não aceitava, de jeito nenhum, o “determinismo” que era pregado durante a idade média e ainda era reproduzido naquela época. Para explicar as situações sociais que o mundo se encontrava, Boas e seus seguidores diziam que era tudo culpa do relativismo cultural e, enquanto ele existisse, a desigualdade e o preconceito iriam perdurar na sociedade. Boas, naquela época, já quebrava paradigmas: seus seguidores eram, em maioria, imigrantes judeus, latino-americanos e as mulheres, sendo essas últimas uma das figuras que, naquela época, eram conhecidas por não terem direitos, tendo como dever obedecer somente aos homens. As teorias de Boas causaram rebuliço na América por conta de que a população da época era guiada pelas teorias racialistas, o que, como podemos imaginar, criou um verdadeiro confronto de ideias na época.
Em 1901, o seu primeiro aluno de Doutorado, Alfred Louis Kroeber, que viveu entre os anos de 1876 e 1960 tinha proposto ao professor uma ideia que divergia do que Boas acreditava. Segundo Kroeber, a cultura não tinha um poder tão grande para influenciar o individual de uma pessoa, ou seja, era um superorgânico. Para Alfred, a cultura era tão intensa que possuía uma espécie de vida próprio, volátil, que não dependia da energia interior do indivíduo para acontecer.
Clark Wissler, que viveu entre os anos de 1870 e 1947 estava cursando o seu doutorado no curso de psicologia quando o departamento de pesquisa que ele trabalhava se fundiu ao de Boas. Trabalhando juntos, Clark desenvolveu ideias que se assemelhavam e muito ao determinismo da cultura que Kroeber tinha proposto, mas com algumas ressalvas e peculiaridades próprias de Wissler.
No começo do século XX, mais precisamente, do ano de 1920 para frente, vários dos alunos de Boas começaram a se interessar pela psicologia, pois viram que esse curso poderia ajudar em muito nos desvendamento de diversas teorias, dúvidas e, inclusive, endossar ou legitimar alguma teoria boasiana. A psicanálise, uma das ferramentas da psicologia era uma das mais procuradas entre os alunos de Boas.
Por meio da psicologia, foi possível estudar e definir quais eram os parâmetros comuns nos povos, sua organização e a sua cultura, para, assim, poder definir um padrão sobre como uma sociedade é criada e estratificada. Estudos direcionados para a análise da infância, crescimento até a chegada adulta de algumas pessoas foram também realizados, para que pudesse se chegar em um consenso sobre a formação daquele núcleo social.
Apesar de sua importância, a antropologia nos Estados Unidos só foi definida como importante depois da segunda guerra, quando GI Bill decidiu investir nos veteranos de guerra, que passaram a compreender um pouco mais sobre a realidade que viviam.