A expressão chamada de Literatura Negra está presente em diversos países e está ligada a movimentos surgidos no Caribe e Estados Unidos, onde é incentivado um tipo literário que valorize as questões da identidade e cultura africana. Esse termo tem a tendência de querer valorizar os valores de um segmento outrora rejeitado e reprimido pela sociedade.
Os conceitos sobre a literatura afro-brasileira são analisados e discutidos em nosso país há vários anos, no entanto, eles são considerados ainda como conceitos e noções que encontram-se em construção e desenvolvimento.
A literatura afro-brasileira se constitui em materiais que apresentam temas, linguagem, autores nas mais diversas áreas (sociologia, arqueologia, antropologia, religião, romance, historia, ensaios, romances), abordando temas (escravatura, imigração, religiões, etc.) que realçam e buscam um ponto de vista ligado a afro descendência visando o resgate de ideais, costumes e historia da influencia africana nas diversas áreas da cultura afro-brasileira.
Resgate das Origens da Cultura Afro-Brasileira
A literatura afro-brasileira busca valorizar as informações e heranças da cultura afro-brasileira, e em janeiro de 2003, o presidente Luis Inacio Lula da Silva, alterou a lei de de diretrizes e bases da educação e sancionou a lei 10.639 que inclui como obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas.
Com essa lei, passou a existir a necessidade de existir um material literário e didático apropriado para os estudantes.
Devido a necessidade de definição de um material apropriado para o desenvolvimento do ensino da história e cultura afro-brasileira, passou a existir a necessidade de diferenciação dos trabalhos literários, que na realidade, devido a nossa miscigenação étnica, também influencia as artes e literaturas, existindo uma miscigenação literária entre brancos e negros.
A mistura de raças e culturas está intimamente ligados a população brasileira, o que dificulta a definição de uma obra como literatura afro brasileira ou literatura negra. Além disso, devido a discriminação racial existente em nosso país, acabou existindo um “esbranqueamento” dos textos que tinham origem africana, aumentando ainda mais a ideia de miscigenação, apagando a produção literária de origem negra.
Com a desvinculação de escritos de origem afro, acaba resultando na ausência de um histórico das obras literárias que permitam que a literatura afro-brasileira seja estudada e por isso que consolida a informação que a literatura afro-brasileira encontra-se em um momento de construção em nosso país.
Caracterização de Obras da Literatura Afro-Brasileira
Por tudo isso exposto, os critérios para definir se as obras literárias se caracterizam para definir se a obra é afro-brasileira são variados.
Um dos critérios adotados é o aspecto e fato de representação do negro no texto, seja em obras de poesia, teatro e literatura contemporânea.
Outro critério adotado é o da cor da pele do autor ou escritor da obra, onde o escritor colocasse em suas obras de forma publica a sua origem e cor negra, ressaltando a africanidade tanto do escritor quanto da obra. Desta maneira, os autores se tornam representantes dos sentimentos da população de origem africana.
Esse critério acaba situando a obra de Machado de Assis na literatura afro-brasileira, principalmente através das ideias expostas no livro: Machado de Assis – Afro Descendente (que nada mais é, que um brasileiro de origem africana), escrito por Eduardo de Assis Duarte, um dos grandes estudiosos da literatura afro brasileira.
Analisando os textos escritos por escritores brasileiros mediante essas perspectivas pode se concluir que por exemplo Cruz e Sousa fez referencias camufladas as questões raciais. Já Tobias Barreto evitou o confronto com questões raciais devido ao seu interesse pela filosofia alemã. Enquanto que Lima Barreto e Luiz Gama não se ocultaram ao protesto com relação aos aspectos raciais.
Machado de Assis – Maior Escritor Afro-Brasileiro
Machado de Assis era neto de escravos e portanto descendente de Afro-Brasileiros (Machado de Assis era mulato). Apesar disso, as principais obras de Machado de Assis, pode ser considerada uma literatura feita para os homens brancos, pois na época em que viveu cerca de 85% da população era analfabeta. O tema de afro brasilidade surgia apenas em pequenos espaços dos textos e de maneira dissimulada.
A obra de Machado de Assis tem em sua obra a característica de não expressar as questões raciais nos seus textos. Porém existe uma serie de textos (crônicas) escritos por Machado de Assis que são desconhecidos do grande publico, que tratam das questões sobre a vida dos negros.
Varias dessas crônicas foram escritas através de pseudônimos e estão expressas na obra Machado de Assis – Afro Descendente, e podem ser encontradas na biblioteca nacional.
Machado de Assis fazia uso dos pseudônimos como uma maneira de proteger o seu cargo de funcionário publico, pois ele vivia em uma época em que vários funcionários eram demitidos por fazerem textos favoráveis a abolição da escravatura.
Outra característica da obra de Machado de Assis é mostrar o negro como qualquer outro ser humano, sem estereótipos de defesa quanto a questão do racismo. Machado de Assis apresenta um tratamento de dignidade ao negro, diferente de muitos outros escritores daquela época que tratavam o negro como um ser humano de segunda categoria.
Machado de Assis foi um escritor afro descendente que escreveu contra a abolição, com a visibilidade de seus textos escondida por pseudônimos, porém sua obra é afro brasileira.
Obras da Literatura Afro Brasileira – Ensino da Cultura Afro Brasileira
Segue abaixo algumas obras que estão coletadas e caracterizadas como pertencentes a Literatura Afro Brasileira que auxiliam os profissionais da educação no ensino da cultura afro brasileira aos estudantes:
- Menina Bonita do Laço de Fita (Autora: Ana Maria Machado) – historia de um coelho branquinho que se apaixona por uma menina negra. Debate assuntos como auto estima das crianças negras e igualdade racial;
- Luana, a menina que viu o Brasil neném (Autores: Oswaldo Faustino, Arthur Garcia e Aroldo Macedo) – historia de uma menina de 8 anos que gosta de lutar capoeira e a historia da descoberta do Brasil. Através do berimbau mágico, Luana leva o leitor a momentos importantes da cultura brasileira;
- O Menino Marrom (Autor: Ziraldo) – historia de amizade entre duas crianças, uma branca e outra negra. Através da convivência dos dois, o autor mostra as diferenças humanas realçando o preconceito existente;
- Lendas da África (Autor: Julio Emilio Brás) – historias e fabulas típicas dos africanos. O autor apresenta o folclore africano;
- Meu Avô um Escriba (Autor: Oscar Guelli) – historia que acontece no Egito, onde Tatu, neto de um escriba, através do convívio com o avô aprende cálculos e tem contato com as tradições de seu país;
- O Cabelo de Lelê (Autora: Valéria Belém) – história de uma menina negra que não gosta do seu cabelo cheio de cachos. Ela através de um livro, começa a entender a origem do seu cabelo e passa a valorizar o seu tipo de beleza;
- Bia na África (Autor: Ricardo Dregher) – historia que relata a viagem de Bia por vários países africanos, onde ela conhece o povo e as historias de nossos antepassados negros que vieram como escravos para o Brasil.
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